A Amazônia e a Água Doce
A vegetação é a garantia de existência de água, visto que é nela, ou por ela, que se processa a evapotranspiração que possibilita o ciclo de das águas doces, via chuvas, e é através dela que acontece a retenção das águas de chuva, ensejando sua infiltração no solo e o conseqüente abastecimento dos lençóis d’água subterrâneos que irão chegar aos rios e lagos.
O desmatamento das grandes espécies de vegetais (árvores), para dar lugar a pastagens e culturas vegetais de baixo porte, leva a erosões do solo que, além de carregar materiais terrosos para os leitos dos rios e lagos (causando assoreamento) e diminuindo, com isso, suas capacidades de transporte, tornam o solo estéril (desertificação) pelo arraste da camada fértil (que contém nutrientes).
Para as agriculturas que necessitam irrigação intensiva, o grande consumo de água tende a prejudicar o seu uso para outros fins e esgotar os mananciais que fornecem a água.
Além de que a água doce já estar faltando em diversas regiões do oriente, o alerta surge, agora, na China, onde existe muitas monoculturas do arroz, ocorrendo um enorme desperdício de água doce devido às velhas técnicas de irrigação, acrescidas da baixa produtividade. A China já sente que a água que está perdendo na agricultura irá faltar para a sua expansão industrial. O segundo maior rio da China começa a secar.
O World Watch Institute adverte para uma crise global da água, com direito a conflitos piores que os do petróleo, informa Joelmir Beting em uma de suas colunas.
Refletindo sobre a pretensão de desmatar a Amazônia, por motivos que a nossa inteligência se recusa a aceitar, devemos ter em mente que a floresta é fábrica de água doce e desmatá-la implica na diminuição de recursos hídricos. A Amazônia é detentora de 20% de toda a água doce disponível no Planeta.
Como já falado, a água doce é escassa em várias regiões do Mundo e sendo assim, se torna um bem cada vez mais raro e portanto, começa a assumir forte papel econômico.
Da mesma forma que os E.U.A. mantêm intocada sua reserva de petróleo no Alasca, a preservação da nossa água doce na Bacia Amazônica, com certeza, contribuirá, num futuro não muito longínqüo, como reserva estratégica para todo o povo brasileiro.
Seremos uma “OPEP” das águas doces e iremos vender água.
Quanto à reforma pretendida no Código Florestal, que deverá ser votada dia 24 de maio, a menos que se consiga adiá-la, entre outros absurdos, pretende ela desobrigar de recuperação as áreas de proteção já desmatadas e ainda permitir a regularização de tudo que nelas já tenha sido construído ou implantado de atividade econômica.
Após ter escrito este artigo fiquei sabendo que o Governo pretende reeditar a Medida Provisória mantendo a exigência 80% da propriedade como área de reserva legal na Amazônia, o que foi uma conquista da pressão popular em cima de um absurdo que se queria tornar legal. Todavia, a sociedade deve permanecer atenta e não se desmobilizar em função deste assunto.
De modo geral, a proposição de mudança do Código Florestal significava reduzir de 80 até 25% a reserva legal nas áreas de florestas na Amazônia e também, de 20 para 10% no Cerrado e na Mata Atlântica (hoje só com 7% do que era).
Desejava também que a reserva legal existisse somente em áreas não adequadas a qualquer tipo de atividade econômica e liberaria o plantio para espécies exóticas (não naturais do Brasil).
A mudança pretendida ia além, ao dispensar a obrigatoriedade de recuperação da reserva legal em propriedades com até 25ha. Nos Estados Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, mais de 50% das propriedades têm menos de 25ha (“Diário do Vale, 17 de maio de 2000, pág. 2”).
Essa reforma tem que ser mantida barrada, para que não se transforme a Amazônia (e o País) num grande deserto!