O Lixo

04-10-2011 11:52

 Os lixos, considerados os resíduos gerados pelo homem em suas atividades de todas as naturezas, constituem uma das maiores preocupações para aqueles que entendem os malefícios que eles podem causar, se não convenientemente cuidados.

Da mesma forma que defendemos que o tratamento de esgotos de uma cidade deva ser setorizado o mais possível, isto é, feito para atender grupos isolados de população, evitando-se a construção de grandes estações, o mesmo raciocínio se aplica, "mutatis-mutandi", ao tratamento do lixo doméstico de uma cidade. Por isso, as intenções de se construir grandes usinas, salvos outros juízos a serem considerados, devem ser bem pesadas, para que arrependimentos futuros não ocorram; vide a Usina do Caju, no Rio de Janeiro e a de Vitória, no Espírito Santo, com suas dificuldades operacionais.

A tendência natural brasileira é acreditar piamente em tudo que vem de fora, quer sejam equipamentos, produtos acabados ou tecnologias; com isso, padece a engenharia nacional que muitas vezes não consegue ser acreditada e nem mesmo experimentada. Quantos exemplos há de fracassos na implantação apressada de processos oriundos de países de culturas, climas e hábitos totalmente distintos do nosso?

A construção de usinas de médio porte, para agrupamentos de cerca de sessenta a cem mil pessoas, vem a calhar para os administradores municipais, pois suas localizações, se bem pensadas, economizarão em fretes e darão a segurança que uma grande usina, parada, não dará, visto que será fácil remanejar os lixos para outra usina, enquanto se conserta a que está parada. Além disso, a instalação dessas usinas de porte médio permitiria o desembolso gradativo dos recursos, dentro de um cronograma conveniente, a um custo entre 0,5 a 1 milhão de dólares americanos/unidade, conforme a sofisticação que se deseje, incluídas aí todas as obras de infra-estrutura, arborizações, arruamentos etc.

As médias-usinas, de que se fala, são integradas, isto é, servem para segregação dos vários componentes do lixo como, também, para compostagem de resíduos orgânicos, constituídos de restos de alimentos. Outras sofisticações podem, gradativamente, ser acrescentadas, visando enobrecer os produtos segregados ou compostados, aumentando-se os seus valores de comercialização.

Das formas de separação dos diversos tipos de componentes do lixo, a que mais condiz com nossa realidade é, sem dúvida, aquela que se utiliza de catadores (pessoas) nas esteiras por onde correrão os lixos em sua forma original, podendo, assim, reintegrar à sociedade, aqueles que vivem subumanamente da catação em meio aos lixões, passíveis de toda a sorte de doenças e servindo de vetores dessas doenças para o resto da sociedade.

A cultura e as condições econômicas brasileiras estão longe, ainda, de possuir um sistema, comum no Primeiro Mundo, de pré-seleção domiciliar; dessa forma, devemos ter a humildade de reconhecer que tal sistema, na esmagadora maioria das comunidades populacionais, é uma utopia, e buscarmos o caminho que mais coadune com nosso real estilo de vida, isto é, a coleta da miscelânea, compactada ou não.

A nacionalização, no caso da média-usina, atinge a tal simplicidade que é possível, com recursos locais de materiais e mão de obra, promover a implantação em curto prazo de uma unidade, bem como realizar as operações da planta, o que, sem dúvidas, trará influência na geração de empregos de forma direta na região.

O fato de uma cidade cuidar convenientemente dos resíduos gerados pelos seus habitantes já constitui um retorno, traduzido pela melhoria da qualidade de vida, além de que, uma média-usina trará divisas, através da reciclagem e da compostagem.

Fica lançada a idéia, que não custa muito tempo para implantar – cerca de seis meses – e não custa tanto, se compararmos com os milhões de dólares a serem dispendidos para implantação de grandes usinas importadas, complexas e não condizentes com o que temos.

Fica, também, a advertência que o aterro sanitário controlado, com os lixos não orgânicos pré selecionados é, ainda, a solução mais barata e deve ser levada em conta, se houver espaço para implantação e os consentimentos legais para fazê-la.